28.12.20

2020, livros



Um defeito de cor, Ana Maria Gonçalves

Eu achava que era só no Brasil que os pretos tinham que pedir dispensa do defeito de cor para serem padres, mas vi que não, que em África também era assim. Aliás, em África, defeituosos deviam ser os brancos, já que aquela era a nossa terra e éramos em maior número. O que pensei naquela hora, mas não disse, foi que me sentia muito mais gente, muito mais perfeita e vencedora que o padre. Não tenho defeito algum e, talvez para mim, ser preta foi e é uma grande qualidade, pois se fosse branca não teria me esforçado tanto para provar do que sou capaz, a vida não teria exigido tanto esforço e recompensado com tanto êxito.



Summer, Ali Smith 

I thought the Shakespeare play for the summertime was meant to be the one about the fairies. Midsummer dream, he says.
Oh, the fairies, she says. The Winter's Tale's all about summer, really. It's like it says, don't worry, another world is possible. When you're stuck in the world at its worst, that's important. To be able to say that. At least to tend towards comedy.



Seis mil anos de pão, Eduard H. Jacob 

Assim, além de outras funções, as pinturas tumulares dos egípcios eram um eficaz meio pictórico para preservar e comprovar magicamente a identidade do morto. [...]
Nessa representação, vemos, então, em primeiro lugar dois homens afadigados na tarefa de pisar a massa. Parecem dançar; provavelmente trabalhavam com um ritmo definido e usavam as longas varas que têm consigo para não escorregarem na massa, mas também para se apoiarem e poderem exercer uma força maior (séculos mais tarde Heródoto gracejava a propósito de "um povo que amassa o pão com os pés e a lama com as mãos").



A rainha do Ignoto, Emília Freitas

Irmãs de fé, irmãs no desterro, a soberana do Ignoto, a musa do Nevoeiro, vos faz saber que a sessão de hoje não é a sessão ordinária, adstrita às cerimônias da lei, é uma sessão livre, extraordinária, na qual ela deseja dizer algumas palavras a muitas de suas paladinas. Dentro de três dias, partiremos para os assaltos do bem, vamos guerrear a injustiça, proteger o fraco contra o forte, entrar nos cárceres para curar os enfermos, lançar-nos às ondas para salvar os náufragos e atirar-nos aos incêndios para lhes arrebatar as vítimas! Quem não estiver pronta a perder a vida pela fé jurada, pode assinar seu nome no livro da covardia.



Station Eleven, Emily St. John Mandel

I've been thinking lately about immortality. What it means to be remembered, what I want to be remembered for, certain questions concerning memory and fame. I love watching old movies. I watch the faces of long-dead actors on the screen, and I think about how they'll never truly die. I know that's a cliché but it happens to be true. Not just the famous ones who everyone knows, the Clark Gables, the Ava Gardners, but the bit players, the maid carrying the tray, the butler, the cowboys in the bar, the third girl from the left in the nightclub. They're all immortal to me. First we only want to be seen, but once we're seen, that's not enough anymore. After that, we want to be remembered.


Menção honrosa para: The haunting of hill house, Shirley Jackson; A fúria, Silvina Ocampo; A canticle for Leibowitz, Walter M. Miller Jr; Sobre os ossos dos mortos, Olga Tokarczuk; Friday black, Nana Kwame Adjei-Brenyah; Leave the world behind, Rumaan Alam; Hateship friendship courtship loveship marriage, Alice Munro.

Todos os livros de 2020 estão aqui.

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