burning questions, margaret atwood
There’s no shortage of folks standing ready to tell the writer how and what to write. Many are those who feel impelled to sit on panels and discuss the ‘role of the writer’ or the ‘duty of the writer,’ as if writing itself is a frivolous pursuit, of no value apart from whatever external roles and duties can be cooked up for it: extolling the Fatherland, fostering world peace, improving the position of women, and so forth.
That writing may involve itself in such issues is self-evident, but to say that it must is sinister. Must breaks the bond between the writer, such as me, and you yourself, Mysterious Reader: For in whom can you place your readerly trust if not in me, the voice speaking to you from the page or screen, right now? And if I allow this voice to be turned into the dutiful, role-fulfilling sock puppet of some group, even a worthy one, how can you place any faith in it whatsoever? . . .
companion piece, ali smith
I looked at Lea Pelf again, and then at the sharpied words they / them on their T-shirt.
You know, I've often thought, I said, that if given the chance, the tiniest verbal shift, like on your T-shirt, can make everything possible. [...]
It's one of this era's real revolutions. And one of the most exciting things about language, that grammar's as bendy as a live green branch on a tree. Because if words are alive to us then meaning's alive, and if grammar's alive then the connection in it, rather than the divisions in us, will be energizing everything, one way or another. It means an individual person can be both individual and plural at the same time. And I've always believed there's real room to move in embracing the indeterminate.
as mulheres de tijucopapo, marilene felinto
Não vou desrespeitar nunca a menina que existe dentro de mim. A menina que existe dentro de mim está sentada num trono. Minha infância foi grande, de um tamanho sem medida; havia dias de ela me pesar no estômago e eu quase vomitar. Havia noites de ela me derrubar da cama e eu não poder dormir com ela. Espaço. Não há espaço que preencha uma infância. Uma infância são ânsias. Uma infância não preenche espaço algum, ela não cabe, ela se espalha no que eu sou até hoje, no que vou ser sempre.
mandíbula, mónica ojeda (trad. silvia massimini felix)
Vou tentar explicar melhor: para mim, o medo da idade branca começou quando meu corpo estava mudando. Primeiro, um cheiro rançoso. Depois, os mamilos como hematomas se arrepiando e doendo ao toque. Então, os fluidos vaginais iguais a um muco fresco e esbranquiçado. O cabelo indisciplinado. Estrias. Sangue. Aquela coisa incompleta e indefinida que a enoja em nós também é muito repulsiva para mim. A infância termina com a criação de um monstro que rasteja à noite: um corpo desagradável que não pode ser educado. A puberdade nos transforma em homens e mulheres lobos, ou hienas, ou répteis e, quando há lua cheia, vemos como nos perdemos a nós mesmos (o que quer que sejamos).
carvão animal, ana paula maia
Quando os solos são contaminados e os rios poluídos, a cidade jaz na esterilidade. Mas os habitantes de Abalurdes valem-se da natureza morta do carvão para subsistirem. Os fornos são como mulheres fecundadas que geram a vida. A vida é o carvão, mas que também é morte.
A fuligem cobre os olhos, os ouvidos, a boca. Esses homens carvoeiros são cegos, surdos e mudos pelas cinzas. [...] Assim, vistos de longe, esses homens são apenas sombras. Todos negros e sem distinção. São sombras produzidas pelo trabalho duro que é transformar natureza viva em morta para subsistir.
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menção honrosa para: páradais, fernanda melchor; el año de la rata, mariana enriquez & dr alderete; love letters, virginia woolf & vita sackville-west; urso, marian engel; o feiticeiro de terramar & as tumbas de atuan, ursula k. leguin; imaginação e criação na infância, lev vigotski.
ps. lá no prefiro por escrito tem comentários/loucuras/lágrimas/opiniões/etc. sobre essas & outras leituras.
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